do G1
http://revistaescola.abril.uol.com.br/ensino-medio/e-mail-turma-assunto-recursos-linguisticos-internet-431656.shtml
Introdução
Pode interromper o primeiro download se você nunca recebeu um e-mail com frases repletas de abreviações e neologismos do tipo flw, blz, naum, bj, hj e [ ]s. O que será que aconteceu com a linguagem dos jovens? Eles estão escrevendo errado – se obedecermos ao pé da letras às regra gramaticais – ou a pressa e a criatividade exigidas em comunicadores instantâneos, chats, blogs, fotologs e uma infinidade de outros espaços virtuais transformam os internautas em artífices das palavras? De acordo com a reportagem de VEJA ESPECIAL, aqueles que navegam pela rede mundial de computadores vem adaptando e tornando cada vez mais ágeis e divertidos os códigos on-line. Os puristas da língua, portanto, podem respirar aliviados: o bloguês está longe de ser errado. O texto da revista desafia os estudantes a analisarem esse universo lingüístico que eles mesmos criaram.
Reserve um horário no laboratório de Informática. Organize os alunos em grupos e proponha que visitem vários blogs. Revise os principais conceitos relacionados aos diários virtuais (a aula indicada no final deste roteiro pode servir de subsídio). Providencie um dicionário comum e outro de lingüística, além de uma boa gramática. Leve o material para a aula.
Oriente a leitura da reportagem e destaque a interação criada pela internet entre os personagens retratados. Ajude os adolescentes a perceber como numa sociedade cada vez mais fechada não há mais tempo para falar, discutir, ouvir e partilhar. O blog, portanto, funciona como um veículo para se mostrar, pensar, rir, chorar – e ouvir o outro por meio do feedback. Ressalte essa relação e encaminhe uma segunda rodada de navegação pelos diários on-line.
Atividades
Encarregue os adolescentes de enumerar as principais características dos endereços visitados e ajude-os a notar que eles acabaram fazendo uma pesquisa qualitativa. Revele que o principal objetivo dessa atividade é apontar os campos semânticos dos posts e analisar o discurso empregado pelos autores das narrativas. Caso julgue pertinente, inclua na discussão algumas questões de lexicologia – tema que geralmente passa ao largo dos conteúdos programáticos durante as reflexões lingüísticas.
Sugira que cada equipe se atenha aos textos dos blogs. Discuta o papel interativo da ferramenta e a necessidade desse tipo de manifestação humana. Peça, em seguida, que os jovens investiguem o blogging como forma de comunicação pessoal e veículo divulgador de interesses específicos. Conte como levantar hipóteses sobre o corpus lingüístico examinado. Quais são as intenções das linguagens verbal e não-verbal nesses endereços? Explore a diversidade dos conteúdos e evidencie as temáticas mais presentes. Algumas delas são mostradas nos desenhos que ilustram este plano de aula. Ensine que um blog trata, principalmente, de:
@ modelagem política e social;
@ uso como diário de vida pessoal;
@ conteúdo reafirmador da existência;
@ apresentação de pontos de vista sobre o mundo e as coisas;
@ interesse em criar comunidades;
@ realizar catarse; e
@ fazer uso literário ou poético.
Fale também sobre a especificidade da audiência, ou seja, os leitores que freqüentam os blogs constantemente e ali deixam comentários. Lembre que tais textos reforçam a intencionalidade original de estabelecer comunicação.
Dê a cada grupo a incumbência de levantar um conjunto lingüístico capaz de revelar, pelas relações de sentido presentes nos textos verbais e visuais dos blogs, o campo semântico em que elas atuam. Analise a forma (morfológico-lexical), o sentido (semântico) e a distribuição (interface léxico-sintática) dos textos. Ensine que entre as formas encontradas no discurso em cada categoria de blog e a nomenclatura empregada pelos internautas há um abismo tão significativo que até o dicionário se torna um objeto decepcionante.
Explore o Pequeno Dicionário de Bloguês, incluído no final da reportagem, e pergunte que outros verbetes a classe acrescentaria. Diga o que são redes semânticas e estimule os alunos a criarem uma. Peça que cada grupo componha e explique os subconjuntos vocabulares trabalhados. Faça com que todos percebam a freqüência de uso de certas estruturas e incentive a descoberta da intencionalidade de cada texto nos diários virtuais. Se achar pertinente, instigue reflexões lingüísticas sobre questões de lexicologia. Conte que o léxico de uma língua é potencialmente infinito e não se restringe ao estudo dos vocábulos atestados. Ele inclui os “atestáveis”. Lance mão dos dicionários e da gramática e esclareça as eventuais dúvidas relacionadas a esses termos. Ressalte os discursos em bloguês e leve os estudantes a examinar a construção interna (forma) das palavras (unidades de uso) desse pretenso idioma. Peça que todos verifiquem o processo de formação das palavras e examinem atentamente o aspecto complementar da morfologia. Os vocábulos analisados mantêm indicadores de tempo, pessoa, modo, gênero, conjugação etc.? Há alguma tendência à preservação exclusiva do lexema, com perda dos morfemas gramaticais flexionais e derivacionais?
Há uma certa regularidade nos procedimentos de alteração dos vocábulos? Discuta se é possível definir o sentido lexical do bloguês, essa espécie de nova versão da língua portuguesa. Lance outras questões. Pergunte como podemos desenvolver a representação física dos novos termos. É possível estruturar o léxico e a função das relações semânticas desse código recém-criado? A nova estrutura lingüística obedece a regras mais ou menos fixas? Será que ela atende ao princípio de uma economia de tempo, movimentos e digitação? Ou as alterações no plano da escrita são motivadas pelos mesmos critérios que tornam a fala e a redação elementos separados? Há empréstimo lingüístico no bloguês? Em caso positivo, ele é predominantemente ligado a qual idioma? Convide o professor de Língua Estrangeira a falar sobre os empréstimos da língua de Shakespeare com a popularização do uso do computador. No caso específico dos blogs, é possível compor um vocabulário próprio para manejar o recurso? Revele os cruzamentos e as transplantações culturais escondidos em adoções de termos como blog, blogueiro, bloghost, blogosfera, blogroll, fotolog, moblog, blortal, videoblog etc. Por fim, sugira mais uma reflexão: escrever é resultado de vocabulário amplo ou é necessário dominar estruturas, discernir e estabelecer relações lógicas? Como podemos situar um blog nesse contexto?
Consultoria Ângelo Masson Neto
Professor da Universidade Anhembi-Morumbi, de São Paulo
LEITURA COMPLEMENTAR: http://veja.abril.uol.com.br/especiais/jovens_2004/p_068.html