sábado, 30 de agosto de 2008

Lista dos temas prováveis para a redação do ENEM

Queridos e queridas, como estão na véspera do exame? Tenho certeza que bem! Fizemos um excelente trabalho. Confie em você mesmo e arrase amanhã.

É sempre muito complicado tentar acertar qual será o tema da redação do ENEM, mas, como muitos alunos têm me perguntado, vamos brincar um pouco de Mãe Dinah e eleger 10 propostas de redação possíveis. Na verdade, os bons estudantes estão sempre preparados para qualquer proposta. É saber refletir, analisar, propor soluções e colocar no papel que importa. Então, não faz muita diferença. Mas, que é divertido tentar descobrir, isso é! risos

Aí vão meus palpites:

1) Uma proposta ligada ao meio ambiente pode ser a bola da vez. No ano passado, muita gente apostava no Aquecimento Global como grande assunto do ano. Achei improvável, como disse no blog. Seria muito manjado. No entanto, avisei que existiam outras discussões relacionadas ao tema que poderiam cair. Combustíveis renováveis e energias alternativas, por exemplo. Chamei a atenção ano passado e, embora não tenham sido tema da redação, foram objeto de várias questões. O grande assunto que vem sendo debatido ultimamente é o da sustentabilidade, que, como explicamos, vai muito além da área ambiental. Inclusive, uma de nossas propostas de redação foi sobre isso. Quem sabe não cai? Desenvolvimento sustentável é uma expressão da moda. Responsabilidade social é o lado das instituições que tangencia com essa proposta. De parte de nós, brasileiros, este tema poderia vir revestido sob o conceito de cidadania. Outro tema possível é o da soberania da Amazônia. O desenvolvimento do Brasil e o nosso futuro, os desafios e o que fazer para chegar lá seriam desdobramentos, de um ponto de vista mais macro.

2) Violência tem sido um dos assuntos prediletos do ENEM. Acho que foi explorado exaustivamente nas redações. Maioridade penal, o último grande debate na área, é polêmico demais para o ENEM... Talvez, se vier algo nessa área, seja algo mais indireto como a influência da televisão. Ou, melhor ainda... Faz aniversário a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948 pela ONU, que é o outro lado da moeda. Pode vir até a China citada.

3) Um tema ligado à Literatura em ano de tantas comemorações seria muito bem-vindo. A coletânea poderia citar, por exemplo, o centenário de morte de Machado de Assis, o de nascimento de João Guimarães Rosa, o quarto centenário do Pe. Antonio Vieira. Seria um belo tema, tanto sob a perspectiva da Língua Portuguesa, quanto das Letras nacionais. Há os 80 anos de Macunaíma e o caráter do brasileiro!

4) É ano de eleições em todas as prefeituras brasileiras. Tema nacional e de alcance de todos – do jeito que os examinadores gostam. A possibilidade de votar aos 16 anos e a importância de escolher certo podem resultar em algo para a redação deste ano. Seria “a importância do voto”, por exemplo.

5) Tropicália: a antropofagia como traço fundante da cultura nacional, pegando gancho nos 80 anos do Manifesto Antropofágico. Em cultura, o que mais poderia ser? Talvez influências da cultura estrangeira ou projeção da cultura brasileira no mundo, citando a Bossa Nova, em seus 50 anos.

6) Inclusão digital ou influências da tecnologia na sociedade.

7) A fome e sua erradicação ou outro grave problema social, como a distribuição de renda e a geração de emprego. Se focar no jovem, pode ser futuro profissional e a necessidade de uma boa formação. Todos os temas relacionados à inclusão estão em pauta.

8) Inclusão pelo esporte, ou algum tema relacionado à saúde ou portadores de deficiência. Prevenção contra a AIDS é outra discussão velha conhecida dos exames. Alimentação saudável. Um tema derivado, mas interessante, seria a busca pela eterna juventude.

9) A importância da democratização do ensino superior de qualidade ou outro tema de educação, como erradicação do analfabetismo.

10) Um meta-tema. Algo como a escrita e a importância de escrever bem. As dificuldades dos alunos com a redação. Metalinguagem seria uma saída bem sofisticada.

O bom mesmo seria se os examinadores do ENEM fossem bem criativos e nos surpreendessem positivamente. No ano passado, fizeram isso com a questão da diversidade cultural. Agora é esperar para ver.

Boa sorte a todos!

Grande abraço,

Prof. Ricardo Peruchi

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O que anula uma redação?

Falei na última aula. Está também no site do ENEM. Veja alguns deslizes que podem valer nota zero.

Importante: A redação só é corrigida se tiver estrutura de dissertação, mais de quinze linhas, respeitar o tema proposto, estiver legível, não tiver identificação do autor e for escrita a caneta. Se não respeitar qualquer um desses critérios, é contabilizada como nota zero.

Dicas para a redação

A dissertação tem uma estrutura padrão, que é: (1) a introdução ou apresentação, que geralmente ocupa um único parágrafo (não é regra!); depois vem (2) o desenvolvimento do tema ou a argumentação, que pode ser organizado em alguns parágrafos (dois, três, quatro...), depende de quantos você precisa; e, por último, (3) a conclusão, que geralmente também se concentra em um único parágrafo. Não se esqueça do título. Ele deve ser original. Não o confunda com o tema. O título é seu. O tema, na prova do ENEM, já aparece de forma clara.

1. Na apresentação, o tema do qual você irá tratar deve ser explicitado e também o seu ponto de vista sobre ele. A primeira frase precisa capturar o leitor. Evite frases de efeito e o chamado senso comum. Portanto, nada de frases prontas! Há sempre espaço para a originalidade em todo o texto, em qualquer modalidade de texto, e, especialmente, no dissertativo, porque ele trata de idéias. Provérbios e ditos populares - a não ser em uma situação em que algum caia como uma luva e, por isso, seja uma espécie de mote - não são bons argumentos. A dissertação é um texto lógico. Não há lugar para absurdos, lembre-se disso! Seja objetivo.

2. No desenvolvimento, escreva os argumentos que irão reforçar, e, principalmente, comprovar o seu ponto de vista. De preferência, coloque cada idéia em um parágrafo, procure ser claro e objetivo em todos os momentos. Prefira o argumento à metáfora. Se for estabelecer comparações, é preferível que os elementos relacionados pertençam ao mesmo assunto e, é fundamental que a relação que você tecer entre eles seja compreensível e crível. Uma boa dissertação precisa ser acreditada! Procure desenvolver uma linha de raciocínio, como uma espécie de caminho pelo qual você conduz o leitor no percurso de suas idéias. Seja afirmativo!

3. Na conclusão, faça as considerações finais. Você pode também reforçar ou retomar a idéia principal, de uma outra maneira, enfatizando-a e sendo bastante taxativo em relação ao seu ponto de vista, uma vez que ele já foi bem defendido. É um fecho. Você pode, inclusive, usar uma frase forte (contundente) para encerrar.

Bom trabalho!

10 Dicas para uma boa redação

Veja no site do ENEM:

http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=55&Itemid=87

Como fazer redação no Enem - conselhos e modelo

Texto do Prof. Hélio Consolaro, publicado em

O tema proposto pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sempre traz uma situação como tema, geralmente de caráter social, para que o estudante faça uma análise.

A banca apresenta textos de apoio, gráficos e (ou) figuras para que o estudante tenha subsídios para analisar o problema apresentado.

Nesse modelo, sempre proponho a meus alunos do ensino médio que façam uma dissertação de quatro parágrafos, quantidade ideal para atingir as 25 linhas propostas.

O aluno deve verbalizar no primeiro parágrafo o problema apresentado como tema, com suas próprias palavras. Nele, não se dá opinião, pois não se trata de dissertação argumentativa. A posição ideológica do aluno (não se omita) vai aparecer nos apontamentos da causa e da conseqüência, e principalmente na conclusão.

No segundo parágrafo, o estudante indica uma causa do problema, o porquê daquilo acontecer; no terceiro, uma conseqüência, em razão dele, ocorre tal coisa.

E na conclusão, como sempre, a banca examinadora pede para que o estudante apresente a solução para o problema.

Exemplo bem resumido:

Introdução: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez no Brasil.

Tópico frasal do 2.º parágrafo (causa): Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.

Tópico frasal do 3.º parágrafo (conseqüência): Tornam-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.

Conclusão (solução): Fazem-se necessárias políticas públicas fortes de prevenção, com atividades culturais e esportivas para a juventude, ocupando-lhe o tempo, formando o caráter dos adolescentes.

Introdução e conclusão devem ser curtas, pois na primeira apresenta-se o problema; na segunda, a solução, sem delongas. A maior parte das linhas deve ser usada nos parágrafos da causa e da conseqüência.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Prazo de inscrição no PASUSP é prorrogado até o dia 27 de agosto

A Universidade de São Paulo (USP) e a Secretaria Estadual de Educação (SEE) decidiram prorrogar, até o dia 27 de agosto (quarta-feira), a inscrição para o Programa de Avaliação Seriada (PASUSP). A inscrição gratuita de estudantes de 3° ano do Ensino Médio, matriculados em escolas vinculados à SEE, está sendo realizada diretamente nas escolas, mediante a apresentação do CPF do aluno.

A prova será aplicada pela FUVEST no dia 19 de outubro (domingo) e constará de 50 questões objetivas, cada uma com cinco opções de resposta. O estudante terá 4 horas para responder às questões. O conteúdo da prova terá como base os Referenciais Curriculares para o Ensino Médio da SEE. O resultado da avaliação será revertido em bônus adicional de até 3% na pontuação da primeira e da segunda fases do vestibular da FUVEST, a depender do desempenho do estudante na prova.

Mais detalhes sobre o PASUSP podem ser obtidos no site http://www.usp.br/inclusp/pasusp

Oitava proposta de redação

Pesquisa sobre sustentabilidade.

Participantes já podem consultar local de prova do Enem

Leia em:
http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=95&Itemid=1

sábado, 26 de julho de 2008

Sétima proposta de redação

Inclusão digital – o computador como ferramenta para a construção do conhecimento.

Sexta proposta de redação

Tema (desdobrado em três questões):

 Por que os alunos vão mal na redação?
 O estudante brasileiro tem dificuldade em escrever?
 Como melhorar esse aspecto da formação?


O poeta (Mário Quintana) vive brigando com as palavras para dizerem o que ele quer que digam. “Sempre tive dificuldade de escrever, acho que estilo é a dificuldade de expressão de cada um e, para se dar a impressão de que se fez uma coisa pela primeira vez, é preciso reescrever muito.” (Luis Fernando) Verissimo encara a criação do mesmo modo. “Tenho dificuldade de escrever” - repete - “para mim não é uma coisa natural. Levo horas para chegar a um piada. Gosto mais de desenhar e, quanto mais a gente escreve, mais difícil fica.”

Quintana e Verissimo, um encontro feito de humor e poesia, De Cleusa Maria. Jornal do Brasil, 4/5/84

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“Eu arriscaria dizer que, quanto mais se valorizar a redação, tanto melhor será o ensino.”

Reginaldo Pinto de Carvalho, coordenador de correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Professor de Língua Portuguesa, dirige o Centro de Línguas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. É também membro da diretoria da Associação de Professores de Língua e Literatura (APLL). Tem obras publicadas sobre o ensino de Língua Portuguesa e é pesquisador na área de Estilística.

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A Fuvest, maior e mais importante vestibular do país, repreendeu ontem escolas e cursos pré-vestibulares por ensinar seus alunos a produzir redações padronizadas, repleta de clichês e de citações generalistas. A instituição alerta que até os textos rebuscados recebem nota zero se fugirem do tema proposto."Os professores estão ensinando fórmulas que prendem o candidato, o que chamamos aqui de texto camisa-de-força", alertou Maria Thereza Fraga Rocco, diretora-executiva da Fuvest, fundação que elabora o vestibular da USP (Universidade de São Paulo), da Santa Casa e da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

Essas redações, afirma, geralmente empregam citações de grandes nomes da literatura ou de pensadores. "É bastante comum os estudantes utilizarem no início dos parágrafos frases como: Segundo [Sigmound] Freud, ...; De acordo com [François Marie Arouet] Voltaire,...; para mostrar erudição. Mas isso não tem valor algum se o candidato fugir da proposta da redação."

Maria Thereza ressalta que as referências não são proibidas, mas devem ser usadas com cautela e no momento oportuno.

Direção da Fuvest critica escolas e cursinhos por redações-clichê por Alexandre Nobeschi em Folha de S. Paulo, 19/04/2005

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Orientações gerais

Como produzir um bom texto

- Leia atentamente as orientações da prova
- Defenda seu ponto de vista com consistência e criatividade. Evite clichês e idéias de senso comum
- Seja claro e crítico
- Cada parágrafo deve expressar uma idéia completa e dar progressão ao texto
- Evite repetições e textos com frases soltas e desconexas. Use conjunções para interligar orações
- Procure vocabulário adequado ao tipo de texto que está produzindo. O uso de gírias, por exemplo, não é condenado, desde que tenha relação com a idéia central do texto e não mostre pobreza de vocabulário

sábado, 5 de julho de 2008

ATENÇÃO! Inscrições para Enem 2008 serão reabertas no período de 7 a 11 de julho

Inscrições para Enem 2008 serão reabertas no período de 7 a 11 de julho

As inscrições para o Exame Nacional de Ensino Médio, Enem 2008, serão reabertas no período entre as 8 horas do dia 7 e as 23h59min do dia 11 de julho. Conforme portaria nº 99 publicada nesta sexta-feira, 4, no Diário da União, as inscrições poderão ser feitas somente pela Internet, por meio do site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pelo endereço www.enem.inep.gov.br/inscricao.

sábado, 21 de junho de 2008

Literatura

Os tópicos de estudos de Literatura estão na barra da direita, basca procurá-los.

Já passamos por:

Primeira literatura
Barroco
Arcadismo

Por favor, revisem, estudem e leiam os textos complementares.

Quinta proposta de redação

Fonte: Veja Classe AAA, Maio de 2005

"No Brasil a concentração de renda é tão intensa que o índice P90/P10 está em 68 (2001). Ou seja, para cada Dólar que os 10% mais pobres recebem, os 10% mais ricos recebem 68. O Brasil ganha apenas da Guatemala, Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia."

Fonte: Wikipedia

Educação é 2º fator de desigualdade social, diz Ipea

A educação é o segundo fator para a desigualdade entre ricos e pobres no Brasil - perde apenas para o acesso à cultura. A conclusão é do estudo Gasto e Consumo das Famílias Brasileiras Contemporâneas, divulgado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O trabalho aponta que as famílias mais ricas gastam 30% a mais que as mais pobres e que quanto maior a renda per capita e o nível de escolaridade dos chefes de família, maior a parcela das despesas com educação.

Enquanto no biênio 1987/88 as despesas das famílias mais ricas brasileiras eram 11,9 vezes superiores às das mais pobres, em 2002/03 essa diferença cresceu para 24,5 vezes, sobretudo pelo aumento com gastos nos cursos regulares - de 13,9 para 44,5 vezes. Em 2002/03, os itens que apontam maior desigualdade de despesas entre as classes sociais brasileiras são os cursos de pós-graduação e os de idiomas, seguidos pelos de ensino superior e médio.

De acordo com o estudo, os gastos com cursos de pós-graduação são praticamente nulos entre as famílias mais pobres do Brasil. Outro indicador de desigualdade é que as despesas das famílias mais ricas com cursos de idiomas superam em até 800 vezes as das mais pobres.

A pesquisa aponta ainda que educação foi o item que mais cresceu no orçamento das famílias: os gastos passaram de 3,16% em 1987/88 para 4,26% em 1995/96, e para 5,50% em 2002/03. O aumento dessas despesas de 1987 a 2003 foi maior na região metropolitana de Goiânia, seguida pelas de São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.

Os maiores gastos foram com os cursos regulares (pré-escolares, fundamental, médio e superiores), que em 1987/88 representavam 44,80% do total despendido com educação e em 2002/03 subiram para 66,47%. Os pesquisadores creditam essa alta à expansão da rede privada de ensino nos últimos 15 anos. Neste período, só as matrículas no ensino superior privado cresceram 174%, enquanto no público aumentaram 79,8%.

Para o ensino fundamental e o médio, o percentual de matrículas nas escolas privadas caiu de 12,2% para 9,2% em 1991/02, e de 27% para 12,9%, respectivamente. Segundo o estudo do Ipea, o aumento das mensalidades no período contribuiu para a queda nestes indicadores.
No entanto, segundo a economista Tatiane Menezes, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e uma das pesquisadoras da obra, as famílias mais ricas do conjunto da sociedade continuaram a procurar mais as matrículas de seus filhos nas escolas privadas do sistema básico (fundamental e médio), em razão da queda na qualidade do ensino público para essas faixas.

Fonte: Agência Brasil, publicado no portal Terra em 23 de junho de 2007.

Com base nas idéias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema:

Distribuição de renda: como evitar que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres?

Analisar a realidade brasileira e propor idéias para gerar desenvolvimento e renda, promovendo a inclusão social. Considerar os papéis do Estado, da iniciativa privada e da sociedade civil.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações:
• Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas.

sábado, 14 de junho de 2008

Quarta proposta de redação

Extraída do ENEM 2005

Leia com atenção os seguintes textos:

“A crueldade do trabalho infantil é um pecado social grave em nosso País. A dignidade de milhões de crianças brasileiras está sendo roubada diante do desrespeito aos direitos humanos fundamentais que não lhes são reconhecidos: por culpa do poder público, quando não atua de forma prioritária e efetiva, e por culpa da família e da sociedade, quando se omitem diante do problema ou quando simplesmente o ignoram em decorrência da postura individualista que caracteriza os regimes sociais e políticos do capitalismo contemporâneo, sem pátria e sem conteúdo ético.”

(Xisto T. de Medeiros Neto. A crueldade do trabalho infantil.
Diário de Natal. 21/10/2000.)

“Submetidas aos constrangimentos da miséria e da falta de alternativas de integração social, as famílias optam por preservar a integridade moral dos filhos, incutindo-lhes valores, tais como a dignidade, a honestidade e a honra do trabalhador. Há um investimento no caráter moralizador e disciplinador do trabalho, como tentativa de evitar que os filhos se incorporem aos grupos de jovens marginais e delinqüentes, ameaça que parece estar cada vez mais próxima das portas das casas.”

(Joel B. Marin. O trabalho infantil na agricultura moderna.
www.proec.ufg.br.)

“Art. 4o. – É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”

(Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.)

Com base nas idéias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema:

O trabalho infantil na realidade brasileira.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas.

Terceira proposta de redação - argumentação

Os 8 passos para o Brasil virar uma potência

Por Isabel Clemente, Alexandre Mansur e Renata Leal

O prestígio internacional dá orgulho ao empresariado e ao governo do Brasil. Desde as privatizações não se via tanto investimento privado novo num mesmo setor. Até Pedro Paulo Diniz, ex-piloto de Fórmula 1 e empresário do ramo de entretenimento, e sua irmã, Lucila Diniz, herdeiros do grupo Pão de Açúcar, chegaram ao combustível natural. Vão investir cerca de US$ 200 milhões em duas usinas de álcool em Goiás. Para ter uma idéia do fascínio que o álcool vem exercendo, basta contar as liberações de crédito do BNDES.

Até a metade de maio, o BNDES aprovou R$ 1,24 bilhão para projetos no setor. É mais que todo o financiamento de 2005. E há os investimentos internacionais. O mais vultoso anunciado até agora são os US$ 2 bilhões reunidos pelo empresário Ricardo Semler e pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul, na Brazil Renewable Energy (Brenco). A empresa, lançada oficialmente no início do ano, já começou a plantar. Seus planos são construir quatro usinas, no Centro-Oeste, e exportar todo o álcool combustível produzido. Entre os sócios, empresários como Steve Case, fundador da AOL, Vinod Khosla, o multimilionário empreendedor indiano radicado nos Estados Unidos, e James Wolfenson, ex-presidente do Banco Mundial.

Segundo analistas, o Brasil tem potencial para se tornar uma Arábia Saudita verde. Os sauditas faturam US$ 154 bilhões por ano com petróleo. Ninguém arrisca quanto o Brasil ganharia exportando álcool. Mas poderíamos ir até mais longe porque, além de matéria-prima, dominamos a tecnologia da principal energia alternativa das próximas décadas. Receberíamos um volume de investimento sem comparação em nossa história, gerando fortunas empresariais e empregos em massa. Seria uma chance de dar um salto de desenvolvimento.

Essa chance existe porque o alto preço do petróleo e a preocupação com o aquecimento do planeta incentivam a busca por fontes de energia renováveis. O álcool, que o Brasil chegou a abandonar na década de 90, se encaixou nessa história. Embora a trajetória futura do álcool pareça brilhante, e o Brasil esteja na primeira classe, nada garante que não vamos ficar em alguma curva do caminho. Alguns desafios precisam ser enfrentados para o país não repetir o triste enredo de outros ciclos econômicos, como o da borracha, do café e do açúcar.

(...)


GARANTIR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

Se todo mundo começar a plantar cana, não vai faltar comida? Na teoria, não. A cana ocupa 6,2 milhões de hectares no Brasil. Outros 200 milhões de hectares são pastagens. Um ganho de 10% de produtividade no pasto liberaria 20 milhões de hectares para a expansão dos canaviais. Para atender à demanda mundial por álcool, caso o planeta resolva adicionar 5% de álcool à gasolina, precisaremos de pouco mais que 10 milhões de hectares plantados. O problema é que a vida real não funciona assim. Hoje, não há estímulo para a pecuária aumentar sua produtividade. E a produção de bois do país também tende a crescer. Também há pressão para plantar mais de outros alimentos. É pouco provável que alguém deixe de plantar. O que se teme é que plantadores de cana, pecuaristas e outros agricultores busquem a abertura de novas terras, pressionando as áreas de preservação ambiental.

EVITAR O CUSTO AMBIENTAL

Boa parte do prestígio do álcool tem razões ambientais. O combustível natural é uma alternativa à gasolina, cuja combustão gera gases que contribuem para o aquecimento global. “Mas essa vantagem é anulada se, para plantar cana, for necessário desmatar”, diz Christopher Flavin, do instituto Worldwatch, dos EUA. “Ninguém sério estabelece relação direta entre o desmatamento na Amazônia e a expansão da cana. O que existe é o risco para a Mata Atlântica e o Cerrado das regiões canavieiras.” E o perigo de uma compensação indireta: a plantação de cana sobre as pastagens do Sudeste e Centro-Oeste pode aumentar a pressão dos pecuaristas na Amazônia, onde eles já são os principais responsáveis pelo desmatamento ilegal e a grilagem.

A socióloga Laura Tetti, consultora da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), diz que é questionada sobre isso três vezes por semana. Sua melhor resposta é o que vem ocorrendo em São Paulo, Estado que concentra 70% da produção de álcool do país. Em um gráfico, Laura mostra como a área de cana quase dobrou no Estado nos últimos 15 anos. Outro gráfico, com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, sugere que, no mesmo período, a área de remanescentes florestais do Estado cresceu. “Os dados mostram como São Paulo não perdeu florestas para a expansão da cana”, diz Laura. Como? Existem projetos bem-sucedidos de corredores ecológicos em torno de canaviais na região de Piracicaba, em São Paulo. Espécies da Mata Atlântica foram usadas para reflorestar á­reas próximas às plantações.

Mas o destino da floresta ainda é incerto em outros Estados, como em Mato Grosso do Sul. Lá, existem projetos para expandir a área de canaviais de 200.000 para 1,2 milhão de hectares. “Só há um compromisso verbal de que o crescimento ocorrerá em áreas de pastagens, mas ninguém garante as reservas de Cerrado e Mata Atlântica da região”, diz Miguel Milano, da ONG Avina. “Claro que dá para plantar com cuidado. Mas não é o que temos visto.” O Ministério Público do Estado ainda está negociando salvaguardas ambientais com os representantes de 41 projetos de novas usinas para a região. Segundo o promotor Alexandre Raslan, eles ainda não concordam em assinar um termo se comprometendo a seguir a legislação ambiental para as s áreas arrendadas. “Isso garantiria a preservação de 20% da vegetação nativa em cada propriedade, como estabelece a lei”, diz.

OBTER GANHOS SOCIAIS

A indústria da cana, com pretensões a vôos internacionais, ainda se vê às voltas com problemas constrangedores, como a existência de trabalhadores em condições degradantes. O número de propriedades envolvidas é pequeno, mas a quantidade de trabalhadores libertados em alguns casos pelos fiscais do Ministério do Trabalho não. O caso mais estrondoso até agora foi a libertação de mil trabalhadores na fazenda Gameleira, em Mato Grosso, em 2005.

Mais do que melhorar as condições de trabalho, será preciso mudar o sistema de produção para atender às exigências do mercado externo. Além do trabalho degradante, a colheita da cana pressupõe a queima da plantação. Ela é feita para acabar com a palha da cana, cortante, que pode provocar lesões na pele e nos olhos. O fogo também reduz o risco de acidentes com animais, como cobras, no canavial.

A saída é mecanizar a colheita. Neste ano, 40% dos canaviais paulistas serão cortados à máquina. “Até 2017, esperamos não ter mais áreas queimadas e cortadas à mão no Estado”, diz Antônio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Única. As máquinas não servem para terrenos inclinados ou plantações pequenas, mas devem substituir a maior parte da mão-de-obra empregada no setor. É um aumento da produtividade. Mas, também, num primeiro momento, um aumento do desemprego no campo. Os cortadores representam metade do 1 milhão de trabalhadores que a cana emprega. Cada colheitadeira substituirá pelo menos cem deles.

Se a mecanização deverá tirar muitos trabalhadores do campo, o estudo poderá colocar parte deles para dentro das usinas ou criar outras oportunidades de emprego. A pedido da associação de produtores, o Centro Paula Souza, a maior rede de escolas técnicas do Estado de São Paulo, criou um curso técnico em açúcar e álcool há seis anos. A idéia inicial era capacitar quem já havia concluído o ensino médio e trabalhava nas usinas. De lá para cá, escolas técnicas espalhadas pelo Estado oferecem o curso, que dura dois anos. Em Osvaldo Cruz, a cerca de 600 quilômetros da capital, a Escola Técnica Amin Jundi está formando 40 alunos neste ano.

(...)

Em todo o Oeste Paulista, devem ser abertas 40 usinas até 2010. Dos 160 mil postos de trabalho previstos, pelo menos 27 mil serão para técnicos. É o trabalho mais especializado tornando o lugar do trabalho braçal.

(...)

Fonte: Revista Época, Edição 472, 04/06/2007


Com base nas idéias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema:

O Brasil como potência energética e os problemas sócio-ambientais.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas.

domingo, 25 de maio de 2008

ATENÇÃO! Prorrogadas inscrições para o ENEM

O período de inscrição ao Enem 2008 (Exame Nacional do Ensino Médio) foi estendido até 13 de junho. Podem se inscrever estudantes do último ano do Ensino Médio (concluintes) ou pessoas que já tenham concluído essa etapa de ensino em anos anteriores, os chamados egressos. As inscrições podem ser feitas pela Internet, pela página eletrônica do Inep ou em agências dos Correios. Todos os estudantes de escolas públicas e ainda aqueles declarados carentes – egressos ou estudantes de escolas particulares - não pagam a taxa de inscrição, cujo valor é de R$ 35,00.

sábado, 24 de maio de 2008

Segunda proposta de redação


O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Poema de Manuel Bandeira


IBGE diz que 14 milhões de brasileiros passam fome

(O Estado de São Paulo - Nacional - 18/5/2006)

São 7,7% da população em situação de insegurança alimentar grave, de acordo com levantamento feito a pedido de ministério

Robson Pereira

A promessa de garantir três refeições diárias a todos os brasileiros, várias vezes repetida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está longe de se tornar realidade. A comprovação da distância entre intenção e realidade foi divulgada ontem pelo IBGE. Estudo inédito revelou que mais de 3,3 milhões de famílias em todo o País convivem de forma rotineira com o pesadelo da fome. Ao todo, 14 milhões de brasileiros, número equivalente a 7,7% da população, vivem no que o instituto chama de ambiente de insegurança alimentar grave. Em outras palavras, passam fome. Deixam de comer por absoluta falta de dinheiro para comprar alimentos.

Curta metragem "Ilha das Flores"
Direção: Jorge Furtado

Veja vídeos nos posts a seguir.

Com base nas idéias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema:

A erradicação da fome como prioridade.
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas.

Ilha das Flores - Parte 1

Direção de Jorge Furtado

Ilha das Flores - Parte 2

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Sem preconceitos

Deixe o preconceito de lado. A língua é viva e os falantes se apossam dela de muitas maneiras. Não existe só um jeito certo de falar o Português. As universidades de ponta têm se dedicado já há algum tempo a pesquisar e debater esse fenômeno conhecido como variação lingüística ou como variantes lingüísticas. A prova do ENEM, que você fará em breve, dá especial atenção a ele. Em todas as suas edições caíram questões que tematizam essa riqueza expressiva em nosso idioma.

Variantes lingüísticas (variação lingüística)

A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.

Níveis de variação lingüística

É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem.

Nível fonológico - por exemplo, o l final de sílaba é pronunciado como consoante pelos gaúchos, enquanto em quase todo o restante do Brasil é vocalizado, ou seja, pronunciado como um u; o r caipira; o s chiado do carioca.

Nível morfo-sintático
- muitas vezes, por analogia, por exemplo, algumas pessoas conjugam verbos irregulares como se fossem regulares: "manteu" em vez de "manteve", "ansio" em vez de "anseio"; certos segmentos sociais não realizam a concordância entre sujeito e verbo, e isto ocorre com mais freqüência se o sujeito está posposto ao verbo. Há ainda variedade em termos de regência: "eu lhe vi" ao invés de "eu o vi".

Nível vocabular - algumas palavras são empregadas em um sentido específico de acordo com a localidade. Exemplos: em Portugal diz-se "miúdo", ao passo que no Brasil usa-se " moleque", "garoto", "menino", "guri"; as gírias são, tipicamente, um processo de variação vocabular. Existem dois tipos de variedades lingüísticas: os dialetos (variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua, ou seja, os emissores); os registros ( variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, as quais dependem do receptor, da mensagem e da situação).
  • Variação Dialetal

    Variação Regional

    Exemplos: aipim, mandioca, macaxeira (para designar a mesma raiz); tu e você (alternância do pronome de tratamento e da forma verbal que o acompanha); vogais pretônicas abertas em algumas regiões do Nordeste; o s chiado carioca e o s sibilado mineiro;

    Variação Social

    Exemplos: o meio social em que foi criada e/ou em que vive; o nível de escolaridade (no caso brasileiro, essas variações estão normalmente inter-relacionadas (variação social) : substituição do l por r (crube, pranta, prástico); eliminação do d no gerúndio (correndo/correno); troca do a pelo o (saltar do ônibus/soltar do ônibus);

    Variação Etária

    Exemplo: A faixa etária (variação etária): irado, sinistro (termos usados pelos jovens para elogiar, com conotação positiva, e pelos mais velhos, com conotação negativa).

    Variação Profissional

    Exemplo: a profissão que exerce (variação profissional): linguagem médica (ter um infarto / fazer um infarto); jargão policial ( elemento / pessoa; viatura / camburão);

  • Variação de Registro

    Grau de Formalismo

    · no vocabulário:

    "Quero te pedir um grande favor." (mais informal)
    "Venho solicitar a V.S. a concessão de auxílio-doença." (mais formal)

    · na sintaxe:

    Pronominais

    Dê-me um cigarro
    Diz a gramática
    Do professor e do aluno
    E do mulato sabido
    Mas o bom negro e o bom branco
    Da Nação Brasileira
    Dizem todos os dias
    Deixa disso camarada
    Me dá um cigarro.


    (Oswald de Andrade - Poesias Reunidas)

    Modalidade de Uso

    A expressão lingüística pode se realizar em diferentes modalidades: a escrita e a falada. Vale a pena lembrar algumas diferenças: na língua falada, há entre falante e ouvinte um intercâmbio direto, o que não ocorre com a língua escrita, na qual a comunicação se faz geralmente na ausência de um dos participantes; na fala, as marcas de planejamento do texto não aparecem, porque a produção e a execução se dão de forma simultânea, por isto o texto oral é pontilhado de pausas, interrupções, retomadas, correções, etc.; isto não se observa na escrita, porque o texto se apresenta acabado, houve um tempo para a sua elaboração. É bom lembrar ainda que não se deve associar língua falada a informalidade, nem língua escrita a formalidade, porque tanto em uma quanto em outra modalidade se verificam diferentes graus de formalidade. Podem existir textos muito formais na língua falada e textos completamente informais na língua escrita.

    Sintonia

    Deve ser entendida como o ajustamento que o falante realiza na estruturação de seus textos, a partir de informações que tem sobre o seu interlocutor. Por exemplo:

    · ao falar com o filho ou deixar um bilhete para ele, a mãe usará um registro diferente daquele que usaria com o seu chefe; isso se dá em função do diferente grau de intimidade que mantém com cada um desses interlocutores;

    · outro tipo de variação pode ser originada em função dos conhecimentos que o falante supõe que o seu ouvinte tem a respeito de um determinado assunto que será o objeto da comunicação. Desta forma, um especialista em um tema falará de formas diferentes em conversa com outro especialista ou em uma conferência, para pessoas que se interessam por aquele assunto, mas ainda não o dominam;

    · diferenças serão observadas em função do grau de dignidade que o falante julga apropriado ao seu interlocutor ou à ocasião, existindo aí uma ampla escala de registros, que vai da blasfêmia ao eufemismo;

    · os registros usados por um jovem poderão ser diferentes se ele for falar com sua namorada, com uma pessoa a quem for solicitar um emprego, com uma pessoa idosa; da mesma forma, escreverá textos distintos em um bilhete para sua mãe ou em um requerimento dirigido a alguém para solicitar alguma coisa.


Fonte: PEAD, UFRJ, Aparecida Pinilla, Cristina Rigoni e M. Thereza Indiani.


***

Língua: unidade e variedade

Vários fatores podem originar variações lingüísticas:

a) geográficos - há variações entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes regiões em que é falada. Basta pensar nas evidentes diferenças entre o modo de falar de um lisboeta e de um carioca, por exemplo, ou na expressão de um gaúcho em contraste com a de um mineiro. Essas variações regionais constituem os falares e os dialetos.

b) sociais - o português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e aos meios de instrução difere do português empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas classes sociais, assim, dominam uma forma de língua que goza de prestígio, enquanto outras são vitimas de preconceito por empregarem formas de língua menos prestigiadas. Cria-se, dessa maneira, uma modalidade de língua - a norma culta -, que deve ser adquirida durante a vida escolar e cujo domínio é solicitado como forma de ascensão profissional e social. O idioma é, portanto, um instrumento de dominação e discriminação social. Também são socialmente condicionadas certas formas de língua que alguns grupos desenvolvem a fim de evitar a compreensão por parte daqueles que não fazem parte do grupo.

O emprego dessas formas de língua proporciona o reconhecimento facil dos integrantes de uma comunidade restrita, seja um grupo de estudantes, seja uma quadrilha de contrabandistas. Assim se formam as gírias, variantes lingüísticas sujeitas a contínuas transformações.

c) profissionais - o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas variantes têm seu uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, médicos, químicos, lingüistas e outros especialistas.

d) situacionais - em diferentes situações comunicativas, um mesmo indivíduo emprega diferentes formas de língua. Basta pensar nas atitudes que assumimos em situações formais (por exemplo, um discurso numa solenidade de formatura e em situações informais (uma conversa descontraída com amigos, por exemplo). A fala e a escrita também implicam profundas diferenças na elaboração de mensagens. A tal ponto chegam essas variações, que acabam surgindo dois códigos distintos, cada qual com suas especificidades: a língua falada e a língua escrita.

A língua literária: Quando o uso da língua abandona as necessidades estritamente práticas do cotidiano comunicativo e passa a incorporar preocupações estéticas, surge a língua literária. Nesse caso, a escolha e a combinação dos elementos lingüísticos, subordinam-se a atividades criadoras e imaginativas. Código e mensagens adquirem uma importância elevada, deslocando o centro de interesse para aquilo que a língua é em detrimento daquilo para que ela serve. Isso ocorre, por exemplo, nos seguintes versos de Fernando Pessoa:

"O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo."

Fonte: "Língua: Conceitos Básicos" do Prof. Pasquale Cipro Neto em
***

Um conceito de língua é o mais usual entre os membros de uma comunidade lingüística, pelo menos em comunidades como as nossas. Segundo tal forma de ver a questão, o termo língua recobre apenas uma das variedades lingüísticas utilizadas efetivamente pela comunidade, a variedade que é pretensamente utilizada pelas pessoas cultas. É a chamada língua padrão, ou norma culta. As outras formas de falar (ou escrever) são consideradas erradas, não pertencentes à língua. Definir língua desta forma é esconder vários fatos, alguns escandalosamente óbvios. Dentre eles está o fato de que todos ouvimos diariamente pessoas falando diversamente, isto é, segundo regras parcialmente diversas, conforme quem fala seja de uma ou de outra região, de uma ou de outra classe social, fale com um interlocutor de um certo perfil ou de outro, segundo queira vender uma imagem ou outra. Esta definição de língua peca, pois, pela exclusão da variedade, por preconceito cultural. Esta exclusão não é privilégio de tal concepção, mas o é de uma forma especial: a variação é vista como desvio, deturpação de um protótipo. Quem fala diferente fala errado. E a isso se associa que pensa errado, que não sabe o que quer etc. Daí a não saber votar, o passo é pequeno. É um conceito de língua elitista.
(...)
Considerando-se que os falantes não falam uma língua uniforme e não falam sempre da mesma maneira, uma outra concepção de gramática opera a partir de uma noção de língua mais difícil de explicitar. Digamos, em poucas palavras, que neste sentido língua é o conjunto das variedades utilizadas por uma determinada comunidade e reconhecidas como heterônimas de uma língua. Isto é, formas diversas entre si, mas pertencentes à mesma língua. É interessante observar que a propriedade "pertencer a uma língua" é atribuída a uma determinada variedade bastante independentemente dos seus traços lingüísticos internos, isto é, de suas regras gramaticais, mas preponderantemente pelo sentimento dos próprios usuários de que falam a mesma língua, apesar das diferenças. Assim, não importa se uma determinada variedade A de uma língua é mais semelhante a uma variedade X de outra língua do que a uma variedade B da mesma língua. A e B serão consideradas variedades de uma mesma língua, X será uma variedade de outra língua. Este tipo de fenômeno é comum em fronteiras políticas, que são muito comumente fronteiras também lingüísticas por causa das atitudes dos falantes mais do que por causa dos traços gramaticais das formas lingüísticas. Língua é, pois, neste sentido, um conjunto de variedades.

Adaptado de "Gramática e Política" de Sírio Possenti.

Convido a todos para aprofundar o tema em:
http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/variacao.html

Todo mundo fala errado?

Lya Luft

Freqüentemente se ouve alguém afirmar, desamparado, que "todo mundo fala errado". Se apenas observarmos superficialmente, poderemos achar que a afirmação está correta. É verdade: ninguém ou quase ninguém fala "certo". Talvez devêssemos então indagar o que é falar "certo". A maioria das respostas será que é "falar como está nas gramáticas", isto é: todo mundo deveria usar, com naturalidade e freqüência, as formas mais sofisticadas da chamada língua-padrão. Nesse caso, diríamos aos amigos, aos filhos, aos empregados coisas como:

- Maria, viste meu filho na escola?
- Não, Teresa, Vê-lo-ei amanhã somente.

Ou ainda:

- Poderias dizer-me aonde irás esta noite?
- Dir-te-ei unicamente quando tiver regressado.
E ainda coisas deliciosas, como:

- Que pensais da cultura dos nossos universitários?
- Não vos posso dar essa resposta, porque seria demasiado desanimadora.

Ora, dirão os meus leitores, que linguajar mais horrível. Que pedantismo, que erudição falsa, que inadequação à nossa realidade. Ninguém fala assim. Enfim uma observação inteligente: ninguém fala assim, porque essas formas, e muitas outras que não estão nos livros, não se usam. Tornaram-se arcaicas, pertencem a um nível de linguagem culto formal, que se aceita, com dor nos ouvidos, em discursos, em sermões de igreja (e olhe lá!. Pelo que nossa liturgia e posturas na Igreja andam evoluindo, em breve a música religiosa será considerada blasfêmia...). São formas apenas aturadas, como se aturam trastes velhos pela casa, enquanto não sabemos onde os colocar. Isso significa que aquilo que os mais ingênuos julgam ser a maneira correta de falar, não passa de fórmula livresca, seca, sem vida. Mas não é, nem de longe, o que devemos empregar diariamente, muito menos na fala. Pois na língua se distinguem duas maneiras de registrar o pensamento: a fala, registro primeiro, e a escrita, registro segundo, isto é, registro da fala. Observando isso, podemos concluir que a escrita é que deve reproduzir a fala, e não vice-versa. Assim não é correto que devêssemos falar como se escreve, mas deveríamos, isso sim, escrever como se fala, o que é impossível por uma série de motivos, um dos quais o de ser a escrita um código determinado por decretos oficiais. Por isso, não é correto somente o que está "nos livros".

Mas há outros aspectos, como a linguagem ser um comportamento social do homem. Não se usa um calção em uma conferência, nem terno e gravata para ir à piscina (entre amigos), como não se fala de maneira descontraída em uma conferência(...) Na escrita, para aprendermos realmente a escrever, é necessário um treinamento intenso, pois o código é mais complicado, obedece a regras fixas e rígidas. Nadar se aprende nadando; guiar se aprende guiando; falar se aprende falando, e escrever se aprende escrevendo e lendo, para internalizar estruturas. O assunto linguagem é complexo demais para ser tratado num artigo, e todos os livros escritos a respeito ainda nos deixam saudavelmente curiosos e perplexos.

Fale que te direi quem és!

Para ir mais a fundo na questão das variantes:

http://www.espacoacademico.com.br/023/23ccarboni.htm

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Evocação do Recife

[Charge por Liberati]
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada

Manuel Bandeira, “Evocação do Recife” (fragmento), publicado em “Estrela da vida inteira”.

Não tem tradução


[Cena de "O cantor de Jazz" (1927), com Al Johnson, considerado o primeiro filme com uma seqüência falada na História do Cinema]

O cinema falado
É o grande culpado
Da transformação
Dessa gente que sente
Que um barracão
Prende mais que um xadrez.
Lá no morro, se eu fizer uma falseta,
A Risoleta
Desiste logo do francês e do inglês.

A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou.
Mais tarde o malandro deixou de sambar
Dando pinote
E só querendo dançar o fox-trot!

Essa gente hoje em dia
Que tem a mania
Da exibição
Não se lembra que o samba
Não tem tradução
No idioma francês.
Tudo aquilo que o malandro pronuncia,
Com voz macia,
É brasileiro, já passou de português.
Amor lá no morro, é amor para chuchu
As rimas do samba não são “I love you”
E esse negócio de “alô", "alô, boy”,
“Alô, Johnny”
Só pode ser conversa de telefone.


Nota explicativa: Ao contrário do citado em aula, a autoria da canção é apenas de Noel Rosa - letra e música. Em "Noel pela Primeira Vez", magnífico trabalho de pesquisa de Omar Jubran, está o esclarecimento. "Por contrato com a gravadora Odeon, erroneamente consta do selo no disco original os nomes de Francisco Alves e Ismael Silva como co-autores. A gravação apresentada em aula é justamente do cantor Francisco Alves, acompanhado pela Orquestra Copacabana em agosto de 1933 - primeiro registro da música.

Questão sobre a canção

Vestibular da Unesp (1999)

Leia os versos da canção e responda.

"O cinema falado
É o grande culpado
Da transformação
Dessa gente que sente
Que um barracãoPrende mais que um xadrez.(...)
Amor, lá no morro, é amor pra chuchu,
As rimas do samba não são 'I love you'.
E esse negócio de 'alô, alô, boy','Alô, Johnny',
Só pode ser conversa de telefone.'

(Noel Rosa. Cinema falado, 1933.)

Os versos do compositor Noel Rosa refletem uma crítica. Eles expressam

a) a ausência das inovações tecnológicas estrangeiras na difusão da cultura popular brasileira.
b) a influência do jazz norte-americano no ritmo e nas letras do samba.
c) a expansão da dominação cultural norte-americana e a desvalorização da cultura popular nacional.
d) a resistência da arte popular quanto às inovações tecnológicas, especialmente o cinema falado e o rádio.
e) o predomínio da música estrangeira em substituição ao samba autenticamente nacional.

Noel Rosa


Para quem quiser saber um pouco mais sobre o compositor Noel Rosa:



quarta-feira, 21 de maio de 2008

A Divina Comédia (La Divina Commedia)



[Dante e Virgílio, ilustração de Gustave Doré]

Inferno, Canto I

Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura ,
ché la diritta via era smarrita.

Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!

Tant'è amara che poco è più morte;
ma per trattar del ben ch'i' vi trovai,
dirò de l'altre cose ch'i' v'ho scorte.

Dante Alighieri

Escrito entre 1307 e a sua morte em 1321, é um poema épico, berço da Literatura e da Língua Italianas.

Leia agora duas traduções deste excerto de Dante:
Tradução de Italo Eugenio Mauro

A meio caminhar de nossa vida
fui me encontrar em uma selva escura:
estava a reta minha via perdida.

Ah! que a tarefa de narrar é dura
essa selva selvagem, rude e forte,
que volve o medo à mente que a figura.

De tão amarga, pouco mais lhe é a morte,
mas, para tratar do bem que enfim lá achei,
direi do mais que me guardava a sorte.

::

Tradução de Cristiano Martins

A meio do caminho desta vida
achei-me a errar por uma selva escura,
longe da boa via, então perdida.

Ah! Mostrar qual a vi é empresa dura,
essa selva selvagem, densa e forte,
que ao relembrá-la a mente se tortura!

Ela era amarga, quase como a morte!
Para falar do bem que ali achei,
de outras coisas direi, de vária sorte,

Nel Mezzo del Camin...

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

Soneto de Olavo Bilac

O que é Intertextualidade?

Na literatura relativa à Lingüística Textual, é freqüente apontar-se como um dos fatores de textualidade a referência - explícita ou implícita - a outros textos, tomados estes num sentido bem amplo (orais, escritos, visuais - artes plásticas, cinema, música, propaganda etc.). A esse “diálogo”entre textos dá-se o nome de intertextualidade.

Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conhecimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
Maria Christina de Motta Maia
Faculdade de Letras/UFRJ

Observe no texto anterior a citação explícita, logo no título, às palavras que iniciam o primeiro verso do Canto I do Inferno de Dante - "Nel mezzo del camin...". Veja o trecho original do poeta italiano e duas traduções para o português. Em seguida, leia o poema do modernista Carlos Drummond de Andrade que ironiza o soneto de Bilac. Percepa a riqueza do diálogo que ocorre entre as três obras.
Pode-se destacar vários tipos de intertextualidade:

Epígrafe (do grego epi = em posição su-perior + graphé = escrita) - constitui uma escrita introdutória a outra. Geralmente é uma citação utilizada na abertura de um texto.
A "Canção de Exílio", poema de Gonçalves Dias, traz versos introdutórios do poeta alemão Goethe, com a seguinte tradução: “Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá , para lá quisera eu ir!”
A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois ambos possuem características românticas, pertencem ao gênero lírico e têm caráter nacionalista.
Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas ou pelo discurso indireto ("segundo Shakespeare", "de acordo com fulano").
Paráfrase - é a reescrita de um texto nas palavras do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois quem parafraseia deixa clara sua intenção e a fonte (ainda que não a cite explicitamente).
Paródia - "é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente." Ela perverte o texto anterior, visando à ironia ou à crítica.
Ela acontece no famoso poema de Carlos Drummond de Andrade No Meio do Caminho, que faz uma paródia do soneto Nel Mezzo del Camin, de Olavo Bilac que, por sua vez, remete ao primeiro verso da Divina Comédia, de Dante Alighiere: "Nel mezzo del camin de nostra vita".
Além do título, Drummond imitou o esquema retórico do soneto de Bilac, ou seja, em vez de parodiar o significado, promoveu um paródia na forma: empenhou-se na imitação irônica da estrutura, reproduzindo apenas o quiasmo (repetição invertida) do texto.
Pastiche - O pastiche pode ser plágio, por isso tem sentido pejorativo, ou é uma recorrência a um gênero. A estética clássica, por exemplo, promovia o pastiche e não era desdouro fazer isso. O pastiche insiste na norma a ponto de esvaziá-la, como acontece com o dramalhão, que leva o gênero drama às últimas conseqüências.
É bom esclarecer que a questão da originalidade e da autenticidade nas artes nasceu com o Romantismo, cuja concepção artística era que a obra expressasse a subjetividade do autor.
Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque implica em recrição de um texto.
Veja o poema "O Corvo" de Edgar Alan Poe traduzido por dois escritores da língua portuguesa:

Once upon a midnight dreary, while i ponde-red
weak ande weary
Over many a quaint and curious volume of for-got-
tem lore, while i modded, neraly napping, su-ddenly
there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at may
chamber door
Only this and nothing more.
(Edgar A. Poe)

1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
‘Uma visita’ eu me disse, ‘está batendo a meus umbrais
E só isto, e nada mais.

(Tradução de Fernando Pessoa)
2
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
‘É alguém quje me bate à porta de mansinho:
Há de ser isso e nada mais.

(Tradução de Machado de Assis)

O poema é o mesmo, mas Machado de Assis traduziu do francês para o português, enquanto Fernando Pessoa partiu direto do inglês, por isso as traduções ficaram bem diferentes, embora a essência dele continue nos dois textos traduzidos.
Referência e Alusão - Machado de Assis é mestre nesse tipo de intertextualidade. Ele foi um escritor que visualizou o valor desse artifício no romance bem antes do Modernismo. No romance "Dom Casmurro", ele cita Otelo, personagem de Shakespeare, para que o leitor analise o drama de Bentinho.
Fonte: adaptado da Wikipedia e do Prof. Hélio Consolaro em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/intertext, que, por sua vez, se baseou no livro "Intertextualidades: Teoria e Prática", vários autores.
Aliás, a bibliografia, também é uma forma de referência:
Paulino, Graça; Walty, Ivete; Cury, Maria Zilda Cury. Intertextualidades: Teoria e Prática, 1ª edição, Belo Horizonte-MG, Editora Lê, 1995.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Primeira proposta de redação

***

Quem merece o título de país do futuro?

No início da década de 70, a economia brasileira crescia anualmente a taxas superiores a 10%, e o Brasil estava destinado a ser o país do futuro como previa o general Médici, presidente da época.

Mas as duas décadas perdidas, que vieram após o período conhecido como "milagre econômico", fizeram com que a expressão, que um dia deu orgulho aos brasileiros, passasse a ser usada com ironia dentro e fora do Brasil, que passou a ser chamado de eterno país do futuro.

Ao mesmo tempo em que o Brasil vivia duas décadas de crescimento medíocre, a China de Deng Xiaoping se abria para o mundo e começava pouco a pouco a pular degraus no ranking dos países mais ricos: hoje já é a sexta maior economia do mundo e cresce anualmente a taxas superiores a 7%.

Será que o Brasil, que caiu recentemente da oitava para a décima posição no ranking das economias mundiais, consegue reagir e superar a China? Por que a China avança enquanto o Brasil pouco evolui? Será que o Brasil de Lula vai reverter esse quadro?

BBC Brasil, 06 de janeiro, 2003

***

À sombra do passado
Os 125 anos de nascimento de Stefan Zweig fazem um bom momento para relembrar os 65 anos de Brasil, país do futuro

Brasil, país do futuro: o título do livro escrito há 65 anos por Stefan Zweig (1881-1942) transformou-se, no imaginário nacional, quase como se fosse uma maldição que, após ser conjurada pelo pobre escritor austríaco, nos tivesse deixado presos num limbo de eterno “vir a ser”, sem nunca chegar lá.

Revista Pesquisa Fapesp - Edição Impressa 126 - Agosto 2006

***

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

***

Com base nas idéias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema:

Brasil, país do futuro, os pilares para o desenvolvimento econômico, social e humano.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas.

sábado, 19 de abril de 2008

Exercícios de introdução (II)

Faça introduções de um parágrafo, explicitando o tema e o seu ponto de vista, para as seguintes propostas:

1) A China em conflito, palco dos Jogos Olímpicos 2008
2) Música brasileira - artigo para exportação
3) Os desafios da exclusão digital no Brasil

Não deixe de enviar a redação da semana pelo e-mail redacao.enem@gmail.com, com cópia para enem@mandic.com.br. Ela será encaminhada para uma corretora especializada, avaliada segundo os critérios do ENEM e devolvida para você com comentários que o ajudarão a se preparar para a prova.

As orientações completas estão no link abaixo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Texto I - Dicionário

A cada uma das palavras listadas em um dicionário ou enciclopédia chamamos de verbete.

Uma mesma palavra pode ter vários sentidos, que também podem ser chamados de significados, definições ou acepções. A este fenômeno dá-se o nome de polissemia. Para ficar bem claro. O que é polissemia? Do grego, poli = vários e semia = significado. Portanto, polissemia é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados. Pode parecer simples, mas esta noção é fundamental para a boa interpretação de textos.

Ao procurar entender um termo específico em um texto, buscamos, através do contexto, descobrir o sentido em que essa palavra está empregada. O termo contexto tem muitas definições, algumas, inclusive que originaram importantes estudos teóricos em vários campos do conhecimento, mas, em linhas gerais, podemos considerar que contexto é a relação entre o texto (ou uma palavra, ou um evento, ou um fenômeno etc.) e a situação em que ele ocorre. Podemos expandir a idéia de situação para cenário ou aquilo que está em volta ou por trás ou ainda que ocorre simultaneamente e tem relação direta com o elemento que estamos analisando.

Uma boa maneira de ampliar o vocabulário é consultar o dicionário toda vez que se deparar com uma palavra desconhecida. Quanto mais vocábulos soubermos, melhores leitores nos tornaremos e melhor dominaremos a língua.

Tomemos um exemplo.

Violência

Acepções
■ substantivo feminino
1 qualidade do que é violento
Ex.: a v. da guerra
2 ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força
Ex.:
3 exercício injusto ou discricionário, ger. ilegal, de força ou de poder
Ex.: v. de um golpe de Estado
3.1 cerceamento da justiça e do direito; coação, opressão, tirania
Ex.: viver num regime de v.
4 força súbita que se faz sentir com intensidade; fúria, veemência
Ex.:
5 dano causado por uma distorção ou alteração não autorizada
Ex.: v. da censura pouco esclarecida
6 o gênio irascível de quem se encoleriza facilmente, e o demonstra com palavras e/ou ações
Ex.: temia a v. com que o avô recebia tais notícias
7 Rubrica: termo jurídico.
constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação

Etimologia(*)
lat. violentìa,ae 'violência, impetuosidade (do vento), ardor (do sol); arrebatamento, caráter violento; ferocidade, sanha; rigor, severidade', der. de violéntus,a,um 'impetuoso, furioso, arrebatado'; ver 1viol-; f.hist. sXV violemçia, sXV vyolencia

Sinônimos(**)
ver sinonímia de fúria

Antônimos(***)
brandura, doçura; ver tb. antonímia de fúria

Fonte: Dicionário Houaiss da língua portuguesa

(*) Etimologia é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem.

(**) Sinônimo é o nome que se dá à palavra que tenha significado idêntico ou muito semelhante à outra. Exemplos: carro e automóvel, cão e cachorro.

(***) Antônimo é o nome que se dá à palavra que tenha significado contrário (também oposto ou inverso) à outra. Exemplos: quente e frio, bem e mal, bom e mau.

Dicionários de Português na Internet

O Houaiss é, na minha opinião, o melhor dicionário da Língua, tendo superado o Caldas Aulete, edição portuguesa, em cinco volumes. Suas definições passeiam pelo significado das palavras, respeitando a amplitude dos vocábulos, sem serem tão taxativas, como no Aurélio. Na web, o Houaiss está disponível para os assinantes do provedor UOL (acesso pago).

A Wikipédia diz sobre ele:

"O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, por Antônio Houaiss (1915 – 1999), filho de imigrantes libaneses e antigo Ministro da Cultura do Brasil, foi criado com o apoio de quase duas centenas de lexicografos de vários países e é o dicionário de língua portuguesa mais completo (cerca de 228 500 entradas, 376 500 acepções, 415 500 sinónimos, 26 400 antónimos e 57 000 palavras arcaicas). Inclui todas as variações da língua portuguesa: africanismos, asiacismos, brasileirismos e lusismos. Dedicando a sua vida à língua, Houaiss começou o seu trabalho em 1986, e morreu um ano antes do dicionário ser acabado pelos seus colegas, no ano 2000, sem ver o seu sonho tornar-se realidade. O dicionário está rapidamente a tornar-se uma referência na língua, sendo até classificado por alguns como um 'monumento à língua'."

http://www.uol.com.br/houaiss

Um dos melhores dicionários da Língua Portuguesa, o Caldas Aulete, editado no Brasil até os anos 80, volta em versão on-line, gratuita e colaborativa (wiki). O projeto desenvolvido pela Lexikon é ambicioso. Quer ser “uma obra aberta, viva, mudando e crescendo junto com a língua, e com isso tornar-se o maior banco de dados do idioma”.

Em http://www.auletedigital.com.br/

É necessário instalar um executável.

Outra opção, incompleta mas gratuita, é o Priberam. Apesar do número de palavras ser pequeno, comparando com o Houaiss, há recursos incríveis. O mais interessante e útil deles é a conjugação de verbos. Basta digitar o verbo no infinitivo - amar, por exemplo -, e logo aparece um link com a opção "conjugar". Após o clique, o site exibe as flexões em todos os tempos, para todas as pessoas. A página web conta também com um corretor ortográfico, com opção para o Português do Brasil ou para o, de Portugal. Não recomendo a utilização desse recurso para os alunos que estão se preparando para exames. Correções automáticas nos acostumam mal. É importante conhecer as próprias deficiências em ortografia e, na hora da prova, vai ter de saber escrever corretamente. Portanto, o que vale é a boa e velha memória. O banner do corretor ortográfico é muito criativo. Exibe a frase "Herrar é umano", para logo depois corrigí-la para "Errar é humano". O Priberam apresenta ainda uma pequena gramática disponível para consulta.



O mais famoso dos dicionários da Língua Portuguesa, o Aurélio Buarque de Hollanda, continua na web, com uma versão muito bem resolvida, infelizmente disponível apenas para assinantes pagos dos produtos iG, iBest e BrTurbo. Gosto muito de uma máxima deste dicionarista que diz: "definir uma palavra é capturar uma borboleta no ar".

Texto II - Enciclopédia

Uma enciclopédia (do grego antigo εγκυκλοπαιδεία, πγκυκλο ["geral"] + παιδεία ["conhecimento"]) é um vasto conjunto de todos os conhecimentos humanos; obra que trata de todas as ciências e artes em geral. Pode ser considerada uma espécie de livro de referência para praticamente qualquer assunto do domínio humano.

Enciclopédias podem ser genéricas, contendo artigos sobre os mais variados temas (como a Encyclopaedia Britannica), ou podem ser especializadas em um determinado assunto (como uma enciclopédia médica ou matemática).

O termo enciclopédia só começou a ser usado no século XVI, embora trabalhos de formato enciclopédico já fossem conhecidos em épocas anteriores.

Fonte: Wikipedia, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Enciclop%C3%A9dia

Vejamos como aparece descrito o verbete “violência” na mesma enciclopédia on-line:

Violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Nega-se autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado. O termo deriva do latim violentia (que por sua vez o amplo, é qualquer comportamento ou conjunto de deriva de vis, força, vigor); aplicação de força, vigor, contra qualquer coisa ou ente.

Assim, a violência diferencia-se de força, palavras que costuma estar próximas na língua e pensamento cotidiano. Enquanto que força designa, em sua acepção filosófica, a energia ou "firmeza" de algo, a violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada na ira, que não convence ou busca convencer o outro, simplesmente o agride.

Existe violência explícita quando há ruptura de normas ou moral sociais estabelecidas a esse respeito: não é um conceito absoluto, variando entre sociedades.

Fonte: Wikipedia – http://pt.wikipedia.org

Texto III - Notícia

Segundo o Manual de Redação do jornal O Globo, notícia é o registro dos fatos, de informações de interesse jornalístico, sem comentários. Fatores objetivos determinam a publicação de uma notícia: o caráter inédito; o impacto que exerce sobre as pessoas e sobre sua vida; a curiosidade que desperta; a imprevisibilidade e improbabilidade do fato. A notícia tem caráter mais informativo do que opinativo. Sua linguagem é objetiva.

Veja um exemplo.

Expansão urbana caótica estimula crime nas grandes cidades

NAIRÓBI (AFP) — Os números de crimes estão aumentando nas cidades de todo o mundo e agora afetam mais da metade dos moradores das zonas urbanas dos países em desenvolvimento, afirmou nesta segunda-feira a agência da ONU para assentamentos humanos, a UN-habitat, destacando ainda que Rio de Janeiro e São Paulo são responsáveis por mais da metade da violência do Brasil.

As taxas dos crimes globais aumentaram cerca de 30% entre 1980 e 2000, o que equivale a 3.000 crimes a mais por cada grupo de 100.000 pessoas, alertou o relatório desta agência da ONU sediada em Nairóbi.

Nos últimos cinco anos, 60% das cidades de países em desenvolvimento foram vítimas de crime, segundo dados deste documento que atribuía a tendência de aumento da violência principalmente à rápida e caótica urbanização.

"A violência urbana e o crime estão aumentando mundialmente, dando impulso a um medo generalizado e tirando investimentos de muitas cidades", lamentou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, citado no estudo.

"Isto é especialmente verdade na África, América Latina e no Caribe".

Na América Latina, onde 80% da população é urbana, a expansão rápida de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Cidade do México e Caracas são responsáveis de mais da metade da violência em seus respectivos países.

O relatório, intitulado "Enhancing Urban Safety and Security: Global Report on Human Settlements 2007" afirma que mais da metade da população mundial agora vive em cidades, alem de apontar para um declínio na violência urbana na América do Norte e no Leste Europeu.

No entanto, mais da metade das cidades tanto de países ricos ou pobres têm medo de crimes "o tempo todo" ou "muito freqüentemente", relatou o documento, citando a opinião de entrevistados.

Pessoas pobres que vivem em favelas são mais afetadas pelo aumento da criminalidade, assim como os quase 100 milhões de crianças de rua nas cidades do mundo.

"A insegurança afeta os pobres mais intensamente", afirmou Anna Tibaijuka, diretora da UN-Habitat. "Isto desfaz laços socioculturais e impede a mobilidade social".

O relatório, divulgado exatamente no Dia Mundial da Habitação, em 1° de outubro, pede um plano urbano efetivo e um governo eficaz como medidas chave para a prevenção de crimes.
Fonte: AFP.

O texto jornalístico

Um bom texto jornalístico depende, antes de mais nada, de clareza de raciocínio e domínio do idioma. Não há criatividade que possa substituir esses dois requisitos.

Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por meio de encadeamentos lógicos. Deve ser exato e conciso. Deve estar redigido em nível intermediário, ou seja, utilizar-se das formas mais simples admitidas pela norma culta da língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e que cada frase contenha uma só idéia. Verbos e substantivos fortalecem o texto jornalístico, mas adjetivos e advérbios, sobretudo se usados com freqüência, tendem a piorá-lo.

O tom dos textos noticiosos deve ser sóbrio e descritivo. Mesmo em situações dramáticas ou cômicas, é essa a melhor maneira de transmitir o fato da emoção. Deve evitar fórmulas desgastadas pelo uso e cultivar a riqueza dos vocábulos acessíveis à média dos leitores.

O autor pode e deve interpretar os fatos, estabelecer analogias e apontar contradições, desde que sustente sua interpretação no próprio texto. Deve abster-se de opinar, exceto em artigo ou crítica.

Fonte: Novo Manual da Redação da Folha de São Paulo, em http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_introducao.htm

Redação - Objetividade x Subjetividade

Ao expor um problema, ao discutir um assunto, você pode agir de duas maneiras: objetiva ou subjetivamente.

Objetivamente: se a exposição do assunto se apresentar impessoal, marcada pela presença do raciocínio e da lógica universal – quando o assunto for abordado e discutido de maneira genérica, com idéias e posicionamentos que possam ser aceitos por todos, ou por uma maioria.

Essa redação tem por finalidade básica instruir e/ou convencer o leitor. As idéias e o modo de se analisar e enfocar os problemas são pessoais, mas a colocação disso tudo dentro da redação deve se feita de modo impessoal: verbo na 3ª pessoa ou na 1ª do plural – afinal, “nós” não sou eu, mas somos todos.

Subjetivamente: caso predominem, na exposição das idéias, suas próprias opiniões, sua maneira pessoal, particular de ver e encarar as coisas. Essa modalidade depende, essencialmente, do tema dado, o que estar próximo da subjetividade. De um modo geral, ela deve ser evitada por aproximar-se demasiadamente da narração, através dos seus subtipos, como a crônica, por exemplo.

Na redação subjetiva, procura-se antes de tudo, angariar a simpatia do leitor com a redação ao exposto. Daí que, para fazê-lo baseamo-nos essencialmente em nossas opiniões; no nosso modo particular de ver as coisas; no nosso pensar em relação aos fatos; deixando transparecer, muitas vezes, um tom confessional, pontilhado de emoção e sentimentalismos: verbo na 1ª pessoa do singular – EU.

O ideal seria que se unissem num só os dois modelos, escrevendo, num tom impessoal, idéias efervescentes de características emotivas que pudessem tocar o leitor, derrubando-o do seu papel tirano de riscar, corrigir, apontar defeitos, afinal ele é “gente como nós”.

Ensino Dinâmico de Pesquisa, Sorocaba – São Paulo: DCL, Difusão Cultural do Livro, 1999, p.59 e 60.

Texto IV - Crônica

Gênero considerado tipicamente brasileiro, sob vários aspectos, a crônica transita entre o jornalismo e a literatura e aposta na subjetividade para relatar, de maneira informal, os fatos do dia-a-dia. Os cronistas têm a liberdade total do texto subjetivo. O cronista nos empresta suas lentes para ver o mundo e nos faz enxergar o que bem entende, em seu universo interior.

Apesar de ser considerada, por muitas décadas, como gênero menor, muitos autores importantes se dedicaram a ela. Carlos Drummond de Andrade foi um dos grandes cronistas do cotidiano do Rio de Janeiro. O mesmo pode-se dizer de Olavo Bilac, que, no início do XX, passou a produzir crônicas num jornal carioca, substituindo outro grande escritor, Machado de Assis. Rubem Braga é tido por muitos críticos como o grande mestre dessa peculiar modalidade de texto curto.

Leia, a seguir, a primeira crônica escrita contra o Golpe Militar de 1º de abril de 1964.

Da Salvação da Pátria

Posto em sossego por uma cirurgia e suas complicações, eis que o sossego subitamente se transforma em desassossego: minha filha surge esbaforida dizendo que há revolução na rua.

Apesar da ordem médica, decido interromper o sossego e assuntar: ali no Posto Seis, segundo me afirmaram, há briga e morte. Confiando estupidamente no patriotismo e nos sadios princípios que norteiam as nossas gloriosas Forças Armadas, lá vou eu, trôpego e atordoado, ver o povo e a história que ali, em minhas barbas, está sendo feita.

E vejo. Vejo um heróico general, à paisana, comandar alguns rapazes naquilo que mais tarde o repórter da TV-Rio chamou de “gloriosa barricada”. Os rapazes arrancam bancos e árvores. Impedem o cruzamento da avenida Atlântica com a rua Joaquim Nabuco. Mas o general destina-se à missão mais importante e gloriosa: apanha dois paralelepípedos e concentra-se na brava façanha de colocar um em cima do outro.

Estou impossibilitado de ajudar os gloriosos herdeiros de Caxias, mas vendo o general em tarefa aparentemente tão insignificante, chego-me a ele e, antes de oferecer meus préstimos, patrióticos, pergunto para que servem aqueles paralelepípedos tão sabiamente colocados um sobre o outro.

- General, para que é isto?

O intrépido soldado não se dignou olhar-me. Rosna, modestamente:

- Isso é para impedir os tanques do I Exército!

Apesar de oficial da Reserva – ou talvez por isso mesmo –, sempre nutri profunda e inarredável ignorância em assuntos militares. Acreditava, até então, que dificilmente se deteria todo um Exército com dois paralelepípedos ali na esquina da rua onde moro. Não digo nem pergunto mais nada. Retiro-me à minha estúpida ignorância.

Qual não é o meu pasmo quando, dali a pouco, em companhia do bardo Carlos Drummond de Andrade, que descera à rua para saber o que se passava, ouço pelo rádio que os dois paralelepípedos do general foram eficazes: o I Exército, em sabendo que havia tão sólida resistência, desistiu do vexame, aderiu aos que se chamavam de rebeldes.

Nessa altura, há confusão na avenida Nossa Senhora de Copacabana, pois ninguém sabe ao certo o que significa “aderir aos rebeldes”. A confusão é rápida. Não há rebeldes e todos, rebeldes ou não, aderem, que a natural tendência da humana espécie é aderir.
Os rapazes de Copacabana, belos espécimes de nossa sadia juventude, bem nutridos, bem fumados, bem motorizados, erguem o general em triunfo. Vejo o bravo cabo-de-guerra passar em glória sobre minha cabeça.

Olho o chão. Por acaso ou não, os dois paralelepípedos lá estão, intactos, invencidos, um em cima do outro. Vou lá perto, com a ponta do sapato tento derrubá-los. É coisa relativamente fácil.

Das janelas, cai papel picado. Senhoras pias exibem seus pios e alvacentos lençóis, em sinal de vitória. Um Cadillac conversível pára perto do “Six”* e surge uma bandeira nacional. Cantam o Hino também Nacional e declaram todos que a Pátria está salva.
Minha filha, ao meu lado, exige uma explicação para aquilo tudo.

- É carnaval, papai?
- Não.
- É campeonato do mundo?
- Também não.

Ela fica sem saber o que é. E eu também fico. Recolho-me ao sossego e sinto na boca um gosto azedo de covardia.

(2-4-1964)

* Uma pequena lanchonete no Posto Seis, onde depois se instalou um banco.

Carlos Heitor Cony, crônica publicada originalmente no Diário da Manhã, republicada em livro no mesmo ano e reeditada em “O ato e o Fato – o som e a fúria das crônicas contra o Golpe de 1964”, Editora Objetiva, 2004.


Literatura de jornal (o que é a crônica?)

Artur da Távola

A crônica é a expressão das contradições da vida e da pessoa do escritor ou jornalista, exposto que fica, com suas vísceras existenciais à mostra no açougue da vida, penduradas à espera do consumo de outros como ele, enrustidos, talvez, na manifestação dos sentimentos, idéias, verdades e pensamentos.

Já escrevi mais de cinco mil crônicas. E a uns estudantes que me pediram uma síntese sobre o gênero, respondi o seguinte:

É o samba da literatura. É ao mesmo tempo, a poesia, o ensaio, a crítica, o registro histórico, o factual, o apontamento, a filosofia, o flagrante, o miniconto, o retrato, o testemunho, a opinião, o depoimento, a análise, a interpretação, o humor. Tudo isso ela contém, a polivalente. Direta a simples como um samba. Profunda como a sinfonia.
É compacta, rápida, direta, aguda, penetrante, instantânea (dissolve-se com o uso diário), biodegradável, sumindo sem poluir ou denegrir, oxalá perfume, saudade e algum brilho de vida no sorriso ou na lágrima do leitor.

A literatura do jornal. O jornalismo da literatura. É a pausa de subjetividade, ao lado da objetividade da informação do restante do jornal. Um instante de reflexão, diante da opinião peremptória do editorial.

É tímida e perseverante. Não se engalana com os grandes edifícios da literatura, mas pode conter alguns de seus melhores momentos. Não se enfeita com os altos sistemas de pensamento, mas pode conter a filosofia do cotidiano e da vida que passa. Não se empavona com a erudição dos tratados, mas pode trazer agudeza de percepção dos bons ensaios.

Para ser boa, não deve ser mastigada. Deve dissolver-se na boca do leitor, deixando um sabor de vivência comum. Deve parecer que já estava escrita há muito tempo na sensibilidade de quem a lê e foi apenas lembrada ou ativada pelo escritor/jornalista que lhe deu forma.

Deve ser rápida como a percepção e demorada como a recordação. Verdadeira como um poente e esperançosa como a aurora. Irreverente como um carioca. Suave como pele de mulher amada e irritada como uma criança com fome.

Terna como a amamentação e insegura como toda primeira vez. Religiosa como a portadora do mistério e agnóstica como um livre pensador. A crônica nos obriga à síntese, à capacidade de condensar emoções em parágrafos-barragem. Faz-nos prosseguir, mesmo quando nos sentimos repetitivos. É, pois, a expressão jornalístico-literária da necessidade de não desistir de ser e sentir. A crônica é o samba da literatura.

Jornal O Dia, 27 de junho de 2001

Lourenço Diaféria traduz também imprime sua visão sobre o gênero:

"A crônica é a reinvenção da lua abstraída das violações científicas e espaciais, é a metafísica dos postes e das azaléias, é a lupa que permite confirmar com a palavra escrita, se o sabonete Palmolive continua a abrir os poros e manter a pele leve e acetinada. A crônica existe para dar credulidade aos jornais, saturados de notícias reais demais para serem levadas a sério. A crônica descobre as pessoas no meio da multidão de leitores. Ela revela ao distinto público que, atrás do botão eletrônico, existe um baixinho resfriado e de nariz pingando, que assoa e vocifera. A crônica serve para mostrar o outro lado de tudo - dos palanques, das torres, de eclipses, das enchentes, dos barracos, do poder e da majestade. Ela não consta no periódico por condescendência. A crônica é a lágrima, o sorriso, o aceno, a emoção, o berro, que não tem estrutura para se infiltrar como notícia, reportagem, editorial, comentário ou anúncio publicitário no jornal. E, contudo, é um pouco de tudo isso."

Diaféria, Lourenço. Depoimento - Escritor Brasileiro/81. Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo, 1981.

Meu Ideal Seria Escrever...

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem – "mas de onde é que você tirou essa história?" – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga
A crônica acima foi extraída do livro "A traição das elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1967, pág. 91.