quarta-feira, 21 de maio de 2008

O que é Intertextualidade?

Na literatura relativa à Lingüística Textual, é freqüente apontar-se como um dos fatores de textualidade a referência - explícita ou implícita - a outros textos, tomados estes num sentido bem amplo (orais, escritos, visuais - artes plásticas, cinema, música, propaganda etc.). A esse “diálogo”entre textos dá-se o nome de intertextualidade.

Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conhecimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
Maria Christina de Motta Maia
Faculdade de Letras/UFRJ

Observe no texto anterior a citação explícita, logo no título, às palavras que iniciam o primeiro verso do Canto I do Inferno de Dante - "Nel mezzo del camin...". Veja o trecho original do poeta italiano e duas traduções para o português. Em seguida, leia o poema do modernista Carlos Drummond de Andrade que ironiza o soneto de Bilac. Percepa a riqueza do diálogo que ocorre entre as três obras.
Pode-se destacar vários tipos de intertextualidade:

Epígrafe (do grego epi = em posição su-perior + graphé = escrita) - constitui uma escrita introdutória a outra. Geralmente é uma citação utilizada na abertura de um texto.
A "Canção de Exílio", poema de Gonçalves Dias, traz versos introdutórios do poeta alemão Goethe, com a seguinte tradução: “Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá , para lá quisera eu ir!”
A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois ambos possuem características românticas, pertencem ao gênero lírico e têm caráter nacionalista.
Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas ou pelo discurso indireto ("segundo Shakespeare", "de acordo com fulano").
Paráfrase - é a reescrita de um texto nas palavras do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois quem parafraseia deixa clara sua intenção e a fonte (ainda que não a cite explicitamente).
Paródia - "é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente." Ela perverte o texto anterior, visando à ironia ou à crítica.
Ela acontece no famoso poema de Carlos Drummond de Andrade No Meio do Caminho, que faz uma paródia do soneto Nel Mezzo del Camin, de Olavo Bilac que, por sua vez, remete ao primeiro verso da Divina Comédia, de Dante Alighiere: "Nel mezzo del camin de nostra vita".
Além do título, Drummond imitou o esquema retórico do soneto de Bilac, ou seja, em vez de parodiar o significado, promoveu um paródia na forma: empenhou-se na imitação irônica da estrutura, reproduzindo apenas o quiasmo (repetição invertida) do texto.
Pastiche - O pastiche pode ser plágio, por isso tem sentido pejorativo, ou é uma recorrência a um gênero. A estética clássica, por exemplo, promovia o pastiche e não era desdouro fazer isso. O pastiche insiste na norma a ponto de esvaziá-la, como acontece com o dramalhão, que leva o gênero drama às últimas conseqüências.
É bom esclarecer que a questão da originalidade e da autenticidade nas artes nasceu com o Romantismo, cuja concepção artística era que a obra expressasse a subjetividade do autor.
Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque implica em recrição de um texto.
Veja o poema "O Corvo" de Edgar Alan Poe traduzido por dois escritores da língua portuguesa:

Once upon a midnight dreary, while i ponde-red
weak ande weary
Over many a quaint and curious volume of for-got-
tem lore, while i modded, neraly napping, su-ddenly
there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at may
chamber door
Only this and nothing more.
(Edgar A. Poe)

1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
‘Uma visita’ eu me disse, ‘está batendo a meus umbrais
E só isto, e nada mais.

(Tradução de Fernando Pessoa)
2
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
‘É alguém quje me bate à porta de mansinho:
Há de ser isso e nada mais.

(Tradução de Machado de Assis)

O poema é o mesmo, mas Machado de Assis traduziu do francês para o português, enquanto Fernando Pessoa partiu direto do inglês, por isso as traduções ficaram bem diferentes, embora a essência dele continue nos dois textos traduzidos.
Referência e Alusão - Machado de Assis é mestre nesse tipo de intertextualidade. Ele foi um escritor que visualizou o valor desse artifício no romance bem antes do Modernismo. No romance "Dom Casmurro", ele cita Otelo, personagem de Shakespeare, para que o leitor analise o drama de Bentinho.
Fonte: adaptado da Wikipedia e do Prof. Hélio Consolaro em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/intertext, que, por sua vez, se baseou no livro "Intertextualidades: Teoria e Prática", vários autores.
Aliás, a bibliografia, também é uma forma de referência:
Paulino, Graça; Walty, Ivete; Cury, Maria Zilda Cury. Intertextualidades: Teoria e Prática, 1ª edição, Belo Horizonte-MG, Editora Lê, 1995.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom..salutar

Daiane disse...

Parábens professor, muito útil os conteudos do blog

Anônimo disse...

Professor, eu adorei o blogger.Parabéns. Eu gostaria de um comentário seu sobre o uso de parafrases, intextualidade e plagio em poesias modernas. Se eu transcrever literalmente uma frase de outro autor no meio de minha poesia isso é parafrase ou plagio?