No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana tirou o livro e meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do braço. A tia empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras com cuidado: — Joana... Joana, eu vi...
Joana lançou-lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa: — Mas você não diz nada? — não se conteve a tia, a voz chorosa.— Meu Deus, mas o que vai ser de você? — Não sé assuste, tia.
— Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez ? — Sei...
— Sabe... sabe a palavra...?
— Eu roubei o livro, não é isso?
— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda confessa!
— A senhora me obrigou a confessar.
— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem... talvez não.
— Por que então...? — Eu posso.
— Você?! — gritou a tia.
— Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal nenhum.
— Deus me ajude quando faz mal Joana?
— Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente nem triste.
Clarice Lispector