sábado, 14 de junho de 2008

Terceira proposta de redação - argumentação

Os 8 passos para o Brasil virar uma potência

Por Isabel Clemente, Alexandre Mansur e Renata Leal

O prestígio internacional dá orgulho ao empresariado e ao governo do Brasil. Desde as privatizações não se via tanto investimento privado novo num mesmo setor. Até Pedro Paulo Diniz, ex-piloto de Fórmula 1 e empresário do ramo de entretenimento, e sua irmã, Lucila Diniz, herdeiros do grupo Pão de Açúcar, chegaram ao combustível natural. Vão investir cerca de US$ 200 milhões em duas usinas de álcool em Goiás. Para ter uma idéia do fascínio que o álcool vem exercendo, basta contar as liberações de crédito do BNDES.

Até a metade de maio, o BNDES aprovou R$ 1,24 bilhão para projetos no setor. É mais que todo o financiamento de 2005. E há os investimentos internacionais. O mais vultoso anunciado até agora são os US$ 2 bilhões reunidos pelo empresário Ricardo Semler e pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul, na Brazil Renewable Energy (Brenco). A empresa, lançada oficialmente no início do ano, já começou a plantar. Seus planos são construir quatro usinas, no Centro-Oeste, e exportar todo o álcool combustível produzido. Entre os sócios, empresários como Steve Case, fundador da AOL, Vinod Khosla, o multimilionário empreendedor indiano radicado nos Estados Unidos, e James Wolfenson, ex-presidente do Banco Mundial.

Segundo analistas, o Brasil tem potencial para se tornar uma Arábia Saudita verde. Os sauditas faturam US$ 154 bilhões por ano com petróleo. Ninguém arrisca quanto o Brasil ganharia exportando álcool. Mas poderíamos ir até mais longe porque, além de matéria-prima, dominamos a tecnologia da principal energia alternativa das próximas décadas. Receberíamos um volume de investimento sem comparação em nossa história, gerando fortunas empresariais e empregos em massa. Seria uma chance de dar um salto de desenvolvimento.

Essa chance existe porque o alto preço do petróleo e a preocupação com o aquecimento do planeta incentivam a busca por fontes de energia renováveis. O álcool, que o Brasil chegou a abandonar na década de 90, se encaixou nessa história. Embora a trajetória futura do álcool pareça brilhante, e o Brasil esteja na primeira classe, nada garante que não vamos ficar em alguma curva do caminho. Alguns desafios precisam ser enfrentados para o país não repetir o triste enredo de outros ciclos econômicos, como o da borracha, do café e do açúcar.

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GARANTIR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

Se todo mundo começar a plantar cana, não vai faltar comida? Na teoria, não. A cana ocupa 6,2 milhões de hectares no Brasil. Outros 200 milhões de hectares são pastagens. Um ganho de 10% de produtividade no pasto liberaria 20 milhões de hectares para a expansão dos canaviais. Para atender à demanda mundial por álcool, caso o planeta resolva adicionar 5% de álcool à gasolina, precisaremos de pouco mais que 10 milhões de hectares plantados. O problema é que a vida real não funciona assim. Hoje, não há estímulo para a pecuária aumentar sua produtividade. E a produção de bois do país também tende a crescer. Também há pressão para plantar mais de outros alimentos. É pouco provável que alguém deixe de plantar. O que se teme é que plantadores de cana, pecuaristas e outros agricultores busquem a abertura de novas terras, pressionando as áreas de preservação ambiental.

EVITAR O CUSTO AMBIENTAL

Boa parte do prestígio do álcool tem razões ambientais. O combustível natural é uma alternativa à gasolina, cuja combustão gera gases que contribuem para o aquecimento global. “Mas essa vantagem é anulada se, para plantar cana, for necessário desmatar”, diz Christopher Flavin, do instituto Worldwatch, dos EUA. “Ninguém sério estabelece relação direta entre o desmatamento na Amazônia e a expansão da cana. O que existe é o risco para a Mata Atlântica e o Cerrado das regiões canavieiras.” E o perigo de uma compensação indireta: a plantação de cana sobre as pastagens do Sudeste e Centro-Oeste pode aumentar a pressão dos pecuaristas na Amazônia, onde eles já são os principais responsáveis pelo desmatamento ilegal e a grilagem.

A socióloga Laura Tetti, consultora da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), diz que é questionada sobre isso três vezes por semana. Sua melhor resposta é o que vem ocorrendo em São Paulo, Estado que concentra 70% da produção de álcool do país. Em um gráfico, Laura mostra como a área de cana quase dobrou no Estado nos últimos 15 anos. Outro gráfico, com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, sugere que, no mesmo período, a área de remanescentes florestais do Estado cresceu. “Os dados mostram como São Paulo não perdeu florestas para a expansão da cana”, diz Laura. Como? Existem projetos bem-sucedidos de corredores ecológicos em torno de canaviais na região de Piracicaba, em São Paulo. Espécies da Mata Atlântica foram usadas para reflorestar á­reas próximas às plantações.

Mas o destino da floresta ainda é incerto em outros Estados, como em Mato Grosso do Sul. Lá, existem projetos para expandir a área de canaviais de 200.000 para 1,2 milhão de hectares. “Só há um compromisso verbal de que o crescimento ocorrerá em áreas de pastagens, mas ninguém garante as reservas de Cerrado e Mata Atlântica da região”, diz Miguel Milano, da ONG Avina. “Claro que dá para plantar com cuidado. Mas não é o que temos visto.” O Ministério Público do Estado ainda está negociando salvaguardas ambientais com os representantes de 41 projetos de novas usinas para a região. Segundo o promotor Alexandre Raslan, eles ainda não concordam em assinar um termo se comprometendo a seguir a legislação ambiental para as s áreas arrendadas. “Isso garantiria a preservação de 20% da vegetação nativa em cada propriedade, como estabelece a lei”, diz.

OBTER GANHOS SOCIAIS

A indústria da cana, com pretensões a vôos internacionais, ainda se vê às voltas com problemas constrangedores, como a existência de trabalhadores em condições degradantes. O número de propriedades envolvidas é pequeno, mas a quantidade de trabalhadores libertados em alguns casos pelos fiscais do Ministério do Trabalho não. O caso mais estrondoso até agora foi a libertação de mil trabalhadores na fazenda Gameleira, em Mato Grosso, em 2005.

Mais do que melhorar as condições de trabalho, será preciso mudar o sistema de produção para atender às exigências do mercado externo. Além do trabalho degradante, a colheita da cana pressupõe a queima da plantação. Ela é feita para acabar com a palha da cana, cortante, que pode provocar lesões na pele e nos olhos. O fogo também reduz o risco de acidentes com animais, como cobras, no canavial.

A saída é mecanizar a colheita. Neste ano, 40% dos canaviais paulistas serão cortados à máquina. “Até 2017, esperamos não ter mais áreas queimadas e cortadas à mão no Estado”, diz Antônio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Única. As máquinas não servem para terrenos inclinados ou plantações pequenas, mas devem substituir a maior parte da mão-de-obra empregada no setor. É um aumento da produtividade. Mas, também, num primeiro momento, um aumento do desemprego no campo. Os cortadores representam metade do 1 milhão de trabalhadores que a cana emprega. Cada colheitadeira substituirá pelo menos cem deles.

Se a mecanização deverá tirar muitos trabalhadores do campo, o estudo poderá colocar parte deles para dentro das usinas ou criar outras oportunidades de emprego. A pedido da associação de produtores, o Centro Paula Souza, a maior rede de escolas técnicas do Estado de São Paulo, criou um curso técnico em açúcar e álcool há seis anos. A idéia inicial era capacitar quem já havia concluído o ensino médio e trabalhava nas usinas. De lá para cá, escolas técnicas espalhadas pelo Estado oferecem o curso, que dura dois anos. Em Osvaldo Cruz, a cerca de 600 quilômetros da capital, a Escola Técnica Amin Jundi está formando 40 alunos neste ano.

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Em todo o Oeste Paulista, devem ser abertas 40 usinas até 2010. Dos 160 mil postos de trabalho previstos, pelo menos 27 mil serão para técnicos. É o trabalho mais especializado tornando o lugar do trabalho braçal.

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Fonte: Revista Época, Edição 472, 04/06/2007


Com base nas idéias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema:

O Brasil como potência energética e os problemas sócio-ambientais.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Observações:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
• O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas.