quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pré-modernismo

As duas primeiras décadas do século XX não registram, no Brasil, convulsões semelhantes às ocorridas na Europa. A abolição da escravatura e o golpe republicano pouco haviam alterado as estruturas básicas do país. A economia - ainda voltada para as necessidades dos países europeus - assentava-se na dependência externa e no domínio interno dos cafeicultores.

Porém, algumas mudanças iam se desenhando. A urbanização, o crescimento industrial e a imigração modificam a fisionomia da sociedade brasileira. Nas cidades, começa a se formar uma classe média reformista. Simultaneamente, emerge uma massa popular insatisfeita e propensa a revoltas irracionais como, por exemplo, a rebelião contra a vacina obrigatória.

Na zona rural, produzem-se confrontos de maior ou menor intensidade dentro das classes dominantes, das violentas mas restritas lutas entre coronéis em determinadas regiões até a verdadeira guerra civil - que se trava no Rio Grande do Sul - entre republicanos e maragatos. Não esqueçamos também que, nesse período, irrompem as revoluções camponesas de Canudos (1896-1897) e do Contestado (1912).

Os primeiros vinte anos do século são marcados tanto pela presença de resíduos culturais do século XIX como pela busca de novas formas de expressão. E, acima de tudo, por um desejo individual - e nem sempre explícito - de redescoberta crítica do Brasil. De um Brasil esquecido, ignorado e, por vezes, doente, mas que precisa ser mostrado, discutido, interpretado.

Euclides da Cunha e Graça Aranha. Valem-se da literatura - o primeiro da linguagem, o segundo da estrutura do romance - para questionar a realidade brasileira e debater o seu futuro. Estão muito próximos do ensaio e o livro “Os sertões” se tornará o maior divisor de águas em nossa cultura, durante todo o século XX.