quinta-feira, 16 de agosto de 2007

"Escola de morrer cedo"

Eu estava fazendo uma conferência no Rio de Janeiro sobre Álvares de Azevedo, a minha paixão na escola romântica paulista, e lá estava, assistindo à conferência, Carlos Drummond de Andrade, quando um jovem interferiu: - Dona Lygia, a senhora disse que Castro Alves morreu com 24 anos, Álvares de Azevedo com 21, Fagundes Varela, completamente em convulsões, delirium tremens e tal, com 33 anos, Gonçalves Dias, o indianista extraordinário, esse um pouco mais velho, aos 42 ou 43 anos, num naufrágio; e sem esquecer Casimiro de Abreu: "Ai que saudades que eu tenho da aurora da minha vida..."

Então, o rapaz perguntou: - A senhora não está exagerando? - Eu disse: - Exagerando como, meu jovem? Isso é a própria conferência que eu estou fazendo no Rio de Janeiro. Ele disse: Mas, dona Lygia, todos eles morreram assim mocinhos? A senhora não está dando um pouco de ênfase excessiva? - Dei uma risada e respondi: - Eu lamento, mas morreram todos com essa idade assim, mais ou menos jovensíssimos, e como diria Mário de Andrade em relação ao Azevedo, esse, então, morreu virgem - 21 anos: - Era virgem - dizia Mário de Andrade, e eu acredito.

Carlos Drummond achou muita graça naquela intervenção desse moço e, quando terminou a conferência, ele me disse: - Lygia, eu vou dar um nome para essa escola: "a escola do morrer cedo". Beleza! Não é? Só um poeta poderia dar um nome tão lindo para a escola romântica.

LÍNGUA PORTUGUESA: UMA PAIXÃO - LYGIA FAGUNDES TELLES SEMINÁRIO SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA: DESAFIOS E SOLUÇÕES

Realizado na sede do Centro de Integração Empresa-Escola, São Paulo, SP, em 31 de maio de 1999.

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